10.4.10

Hedonista



Regresso a casa pela serra e,
aos poucos,
deixo-me envolver pelo inebriante perfume das estevas.


Subitamente,
sou arrancado ao silêncio
e à tepidez envolvente do seu abraço,
pelo canto melodioso e pungente das nascentes que,

aqui e ali,

ignorando a minha inoportuna presença e
julgando-se sós,
cantam com voz cristalina o segredo dos rios
e a desventura das correntes que,
crédulas,
se deixaram seduzir pelas suaves e lânguidas carícias da chuva e,

mais tarde,

receberam com prazer as suas lascivas e progressivamente vertiginosas investidas
e se deixaram fecundar.


Abandonadas,
correm agora,

prenhes e desvairadas

inundando o cimento das cidades,
apagando sombras e pegadas
e arrastando sonhos e o voo das andorinhas,
que inutilmente tentam manter-se à tona.

Recuso ouvir mais
e ligo o rádio
na esperança de afogar o pesadelo.
tina

3 comentários:

Otodectes cynotis disse...

Quero mais!!!

Nuno Garção disse...

Olá amiga
Vejo que continuas a escrever coisas muito interessantes e profundas.
Beijos
Nuno Garção

T. disse...

:)