12.8.09

Saudade



Corro descalça à beira rio
e deixo que os meus olhos mergulhem no azul da corrente.
Ou será verde?

Seja como for,
penso que um peixe vermelho ficaria bem aqui.
Logo que possa,
trarei um pincel
e pintá-lo-ei sobre as águas.

Estremeço de prazer antecipado.

Sim,
um peixe vermelho ficaria bem aqui.

Terá que ser uma pincelada vigorosa, forte, sem hesitações,
mas leve.

Leve?

Se for pesada, o peixe afundar-se-á e as águas permanecerão azuis,
ou serão verdes?

Continuo a correr olhando as águas e o peixe vermelho que acabarei por pintar
e que me acena, sorrindo
e novamente estremeço
por recordar-me de ti
e perceber
já não ser capaz de ver a cor do teu olhar.

Deixo-me embalar pela dança do peixe sobre as águas.
Quero ir para casa.

Com urgência,
pego nos pincéis e pinto o rio.

Mentira!
pego nos pincéis e pinto dois rios.
Um rio azul.
Um rio verde.

Agora só falta o peixe.

Salpico ambos os rios de vermelho e aguardo.
Gradativamente,
de mansinho,
as cores misturam-se,
em ambos os rios.
Estão frescas ainda.

Afasto-me.
Olho para as telas e, subitamente, percebo que um rio onde nada um peixe vermelho só pode ser verde...

Verde?

Sim, tem que ser verde, talvez com um pouco de azul.

Azul?

Sim, verde, com um pouco de azul e o ondular do peixe vermelho à mistura.
Mas só se as cores do peixe e as cores do rio ainda não tiverem secado.

E, tudo isso porquê?

Porque só assim consigo ver novamente o castanho dos seus olhos.
Era castanho, não era?
Ou seria verde?

tina

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