14.8.09

A andorinha


Na rua,
a andorinha voa em movimentos circulares,
concêntricos,
as asas presas pelo encanto nostálgico do assobio que se esgueira da tua janela, por entre a fina quadricula das persianas que semi correste.

No interior,
apenas as linhas horizontais que o sol timidamente vai desenhando no branco das paredes e os teus braços nus abraçados ao vazio.

Na penumbra do assobio,
não sabes do sol,
tão pouco adivinhas o palpitar da andorinha,
mas o adejar apaixonado das suas asas imprime alterações ritmadas na linearidade monótona das sombras que povoam os espaços, transmutando as paredes em gigantescas pautas, onde todas as notas são possíveis.

Subitamente,
sentes-te envolvido por toda a música do universo,
um manto voluptuoso e quente que te enche a alma e te acaricia o corpo.
A tua pele estremece, arrepiada e, no esquecimento do arrepio, liberta as lágrimas.

É tão forte a violência da torrente, há tanto tempo contida,que as paredes se desmoronam soltando o riso que, agradecido, beija a andorinha.

tina

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