17.7.09

Quando a saudade aperta



Quando a saudade aperta,
acendo a lareira
e, envolvido pelo bailado das chamas,
regresso à montanha
e à nossa casa de paredes caiadas com janelas sobre a lagoa.

Quando a saudade aperta,
contemplo o bailado das chamas
e a beleza sossegada das noites estreladas
que diariamente visitavam
a nossa casa da montanha
com paredes caiadas
e janelas abertas ao canto das rãs
que afinado embalava o nosso sonho.

Quando a saudade aperta
regresso à lagoa
sob as janelas abertas da nossa casa da montanha
de paredes caiadas
e perfume a madressilvas
e escuto ao longe as gargalhadas de arrepio que davas
sempre que algum peixe te beijava os pés.

Quando a saudade aperta
viajo aos finais de tarde na montanha
e, de mão dada contigo,
passeio pela paleta de cores indiziveis do pomar
e de novo saboreio a polpa doce dos frutos maduros e a textura suave da tua língua
que à mistura
gostavas de pôr na minha boca.

Quando a saudade aperta
e regresso à montanha,
revejo as paredes caiadas da nossa casa
com pardais a saltitar nos peitoris das janelas abertas a todas as promessas
e o gato preto correndo atrás das lagartixas
e que depois, já cansado,
se enroscava
ronronando mansamente no calor do teu colo
enquanto o afagavas e sorrias para mim.

Quando a saudade aperta
apesar da dança irrequieta das chamas na lareira
e já não aguento a dor,
regresso às frias manhãs de inverno na montanha
e mais uma vez contemplo
a impossível expressão de prazer na tua cara,
quando,
na nossa casa de paredes caiadas e janelas por onde entrava a felicidade,
preguiçosamente te deixavas ficar
escutando o silêncio no meio dos lençóis.

E é então que me abraço a ti
e finalmente adormeço.
tina

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