
Num sonho agitado
com aroma a canela,
polvilhado aqui e ali de flores de laranjeira
e ténues traços de almíscar,
deixa que o seu braço se prolongue
até o perder de vista.
Sem pedir licença às nuvens,
a mão recolhe o arco-íris
e regressa ao barco
para abraçar a sereia,
que fascinada pelo brilho das cores,
solta a sua voz transparente
e canta as estradas desertas onde um dia se perdeu.
Enebriados pela magia da música,
os fantasmas adormecem
enquanto,
progressivamente,
as brumas do passado se vão dissolvendo
e desocultam a ilha.
Expectante,
o barco vinca o seu traço azul e verde sobre as águas
e deixa-se ancorar.
Com ela ao colo,
corre pela areia e,
com urgência,
estende a toalha aos quadrados
sob a sombra das palmeiras.
Cumprindo o ritual,
com delicadeza,
a sereia recolhe as suas lágrimas de alegria,
mergulha nelas um raio de sol e,
pacientemente aguarda
até que atinjam a temperatura ideal.
Depois,
um a um,
vai acrescentando os morangos que,
secretamente,
havia abrigado no coração e,
servindo-se de um búzio,
oferece-lhe o chá,
que ele aceita.
À medida que o bebe,
um enorme espasmo inunda o seu corpo,
enquanto as pernas se lhe vão enrolando em espiral
e o céu se tinge de cor-de-rosa.
Recolhem por fim a toalha e,
de mão dada,
homem e sereia arrastam-se até à praia
onde se sentam
ansiando pela chegada da onda.
Quando ela vem
para beijar a areia,
olham-se nos olhos e,
sem medo,
mergulham no oceano
para toda a eternidade.
tina
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