Que lindo que era o quadrado!
Perfeito...
Cheio de rectidão...
Contido na quietude linear que o envolvia protegendo-o de sobressaltos.
Só uma coisa o preocupava...
a sua cor laranja. Demasiado chamativa!
Apesar disso, sentia-se feliz e
tranquilo,
contemplava a curvilínea paisagem
pensando como devia ser inquietante viver assim,
sem limites.
Mas, subitamente, o ar agita-se.
Ping!
E eis que uma gota azul lhe cai em cima,
afunda-se e ressalta
elevando-se no ar divertida
e novamente cai.
Ping!
E de novo se ergue no ar e,
enquanto sobe,
vai abrindo a sua cor em forma de campainha.
Horrorizado,
o quadrado sente-se expandir,
o seu corpo alonga-se,
perde espessura e
aflito
também ele se ergue no ar!
E agora a gota rola sobre as suas costas
e vai semeando um rasto de cor azul
e de cócegas.
Surpreso
o quadrado-folha escuta uma retumbante gargalhada e
confundido
apercebe-se que é sua.
As cócegas, não aguenta as cócegas!
E não consegue calar o riso...
Ri, ri
e a gota rola, rola,
enquanto desnorteantes linhas azuis
se vão espraiando sobre si.
A gota rola, rola
e ele ri, ri
e a velocidade do riso e a velocidade do voo tornam-se uma só,
vertiginosa e ondulante...
tão vertiginosa e ondulante
que a gota começa a escorregar.
E o quadrado-folha voa, voa
e a gota escorrega, escorrega
e agora já só uma ténue linha azul a prende a ele.
Pára! Não vês que estou a cair?
Pára, ouviste?
Ordeno-te que páres!
Páaaaaara...
...abruptamente
o quadrado-folha suspende o voo.
Afinal, pensou,
não é assim tão mau ter uma gota azul dançando nas minhas costas
e, além disso, fico menos sozinho.
E dobrando um canto, ajuda-a a subir.
Abraçam-se.
Olham-se nos olhos
e voltam a abraçar-se,
um abraço delicioso,
sem fim à vista.
Agora já não é mais um quadrado-folha,
mas uma borboleta de asas azuis-laranja
que alegremente volteia de flor em flor.
Cansada,
interrompe o baile
e pousa no nariz de uma ovelha
que, oculta atrás de uma árvore,
espreitava salivante
um tenro e ondulante campo de ervas verdes e margaridas,
que emergiam de um quadrado-folha amarelo.
Ups!
Ainda mal as suas patas tocavam o nariz da ovelha
e já uma enorme tromba se agitava no ar
tentando desajeitadamente agarrá-la.
Apercebe-se, então,
que a ovelha era afinal
um pachorrento e gordo elefante
secando ao sol a barrenta lama que o cobria.
Aturdida, esfrega os olhos, quer ver melhor...
Aiiiiiiiiiii!
Já não é mais uma elegante e leve borboleta
e sim um enervante e zumbidor mosquito
que o irritado elefante esmaga com a sua tromba.
Plof!
E um anjo eleva-se no ar.
Que lindo, pensa o elefante.
Curioso,
ao ver o anjo,
o quadrado-folha amarelo aproxima-se.
Que criatura maravilhosa, murmura.
Mas já se sente puxado,
enrolado e
horror!
sugado
e desaparece
dentro da enorme, escura, húmida e celestial boca.
Agora uma folha preta cobre toda a paisagem.
tina
Um beijo, Nuno
15.7.09
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4 comentários:
Gostei!
O blog é delicioso e inspirador...
o quadrado virou-se para a lua e perguntou:
és redonda porquê?
:)
Continua amiga!
Obrigada, Tatiana.
:)
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