19.8.09

Sangramento


No calor espesso das noites as formas e os volumes dilatam-se, enquanto as superfícies se despersonalizam, unificadas pela homogeneização das texturas de que se recobrem e pela liquefação progressiva das cores, que agora mais não são que uma amálgama indistinta e monocromática, um monocromatismo acutilante, que de forma acintosa vai mordendo os sentidos até os fazer sangrar.

Alimentado pela fragilidade do sangramento, o calor nocturno incorpora-se, adensa-se e da sua incrementada opacidade ressurgem poderosos e crescentes tentáculos que impiedosamente penetram no abismo dos corpos, fazendo transudar as almas inquietas, que gota a gota libertam o orvalho das memórias há muito envoltas na maciez do esquecimento, e que agora se agitam e gritam numa corrente tresloucada, que as torna insones.

tina

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