12.7.09

The summerhouse


Fechou os olhos para ganhar coragem
e mergulhou.

Já totalmente submersa,
suspensa a respiração,
foi lentamente evoluindo por um intrincado labirinto de ruas oblíquas.

Tacteando,
virou à direita,
depois à esquerda,
novamente à direita
e penetrou num inesperado veludo negro
que logo lhe envolveu o corpo.

Aturdida,
abriu os olhos
e lá estava a casa.

Aberta a porta...
a longa escadaria,
o cheiro a livros antigos e a vidas passadas,
o piano emudecido de olhar tristonho,
o queixume dos móveis cansados da tão longa
(e agora) solitária existência,
o retrato austero da avó pendurado na parede do quarto
vigilante,
reprovador,
as roupas urgentemente espalhadas pelo chão,
o espelho que difusamente reflectia os corpos transpirados sobre a cama
e os Divine Comedy perguntando baixinho
"Do you remember?
The summerhouse...
o sabor e o cheiro da sua pele
o toque
e os Divine Comedy
"My summerhouse
Our summerhouse..."
e ele a sussurrar por entre o abraço
"A vida devia ser isto!"

Abriu os olhos
e lá estavam eles,
aqueles dias de Agosto
em que nada mais existiu
e o sonho se encheu de rosas.

Subitamente percebeu que aquilo que a envolvia era novamente o veludo negro do seu olhar.

"Do you remember?"

tina

Sem comentários: